02-09-2007 01:16

Entrevista com o Professor Joaquim Colôa

A criança não é nem pode ser um problema

Nesta entrevista o docente acrescentou de que está em curso a organização de uma sala que se pretende funcione segundo o modelo TEACCH de forma a responder a necessidades específicas de alguns alunos da nossa Escola.

Qual a importância da presença dos Pais, durante as aulas, para a criança e para o professor nesta actividade?

O envolvimento dos pais nas dinâmicas da escola, no geral e mais particularmente nas dinâmicas de cada turma são essenciais para o sucesso dos alunos e para a implementação de uma escola de qualidade. Defendo que numa escola existem diversos agentes educativos que, mais directa ou indirectamente, são importantes. Assim, para que exista complementaridade é necessário não esquecermos que existem papéis e funções diferentes, que são inerentes a cada um desses agentes. Nesta perspectiva os pais devem ser vistos como uma mais valia sempre que estes bem como os docentes percebam e fomentem os pontos de convergência e trabalho em comum sem ser comprometida a referida diferenciação de papéis e funções. Como refiro num livro que escrevi em 1996 sobre a “relação entre a família e a escola” é necessário trabalharmos os aspectos de comunicação de forma a atenuarmos fontes de conflito construindo-se novas atitudes tanto ao nível dos pais como dos docentes clarificando-se as possíveis dúvidas sobre o papel das famílias e o papel da escola.

Faltam professores na escola?

Existe um docente de Educação Especial em funções nesta escola o que é claramente insuficiente para apoiar o número de alunos que apresentam necessidades educativas de carácter permanente. Acresce a esta situação o facto de estar em curso a organização de uma sala que se pretende funcione segundo o modelo TEACCH de forma a responder a necessidades específicas de alguns alunos. Apresentado o facto dispenso-me a tecer comentários sobre a falta de professores.

Embora tenha primeiro referido o aspecto dos recursos ao nível da Educação especial parece-me que deveríamos pensar os recursos humanos no seu todo (docentes, auxiliares e mesmo outro tipo de técnicos). Lembro que esta escola, enquanto microssistema de um macrosssitema que é o agrupamento possui 300 alunos. Só no que se refere aos alunos com NEE percebemos que cerca de 6% são portadores de NEE de carácter permanente sabendo nós que muitos deles são completamente dependentes.

No entanto numa escola existem outros tipos de NEE que embora não sejam, actualmente, consideradas, de apoio prioritário necessitam de atenções específicas. Muitas vezes, corre-se o risco de pequenos problemas, quando ignorados, se transformarem, no futuro, em grandes problemas. Reportando-me, para estabelecer uma comparação grosseira, ao âmbito da saúde diria que se não tivermos em conta pequenas constipações corremos o risco de estas se transformarem em pneumonias.

Houve erro de organização na aceitação de todas estas crianças? Como se chega a esta situação?

A colocação das crianças com necessidades educativas especiais na escola não é nem pode ser um problema muito menos um erro. O problema não é os alunos estarem na escola. Para além desta minha convicção, pessoal e profissional, é necessário ter presente que, devido às novas directrizes politicas que “criaram Escolas/Agrupamentos de referência” para determinado tipo de problemática, há inevitavelmente concentração de alunos com determinado tipo de necessidades educativas especiais. O problema está (em minha opinião), no facto desta decisão não ter sido acompanhada e mesmo precedida pela necessária afectação de recursos materiais e humanos apropriados. Ao nível mais macro seria interessante que o sistema avaliasse/reflectisse a médio prazo sobre o impacto de centrar esta decisão (criação de “Escolas/agrupamentos de referência”) na colocação dos alunos e não na colocação dos recursos. O FEEI em 2006/2007 num dos seus debates referia que “a decisão de criar escolas de referência deve ser cuidadosamente pensada considerando, entre outros, factores demográficos e de incidência que não foram tornados públicos. Trata-se de uma decisão que se baseia numa indefinição geográfica e numa relatividade do conceito de distância. A criação destas escolas deve ser altamente ponderada, pois, pode inibir o desenvolvimento das relações sociais, de políticas, de cultura e consequentes práticas inclusivas inerentes à vida de uma escola marcada pela diferença e pela diversidade, promotora de valores tolerantes, cooperativos e solidários. Vamos promover o isolamento, presente e futuro, daqueles que mais precisam de estabelecer relações sociais, com os seus parceiros e pares? A ideia, subscrita por muitos dos presentes, é que o aluno deve frequentar a escola de pertença e referência dos irmãos, dos amigos, da comunidade, dado que é nessa comunidade que se criam as bases de uma inclusão social futura. Para além da família, as pessoas com deficiência precisam de uma rede social, o mais alargada possível. Na opinião generalizada dos presentes, as unidades e as escolas de referência deveriam estruturar-se numa concepção de Centros de Recursos.”

Ama e gosta desta actividade?

Esta área de docência foi uma opção feita após alguns anos de trabalho. Assim, foi uma decisão pessoal e profissional consciente do que desejava ser e fazer enquanto docente. Assumo que gosto muito do que faço. A Educação Especial e de forma mais abrangente os princípios da Inclusão são não só a razão de ser da minha profissão mas também uma questão pessoal e de opção enquanto cidadão que defende princípios de equidade, igualdade de oportunidades e participação de todos.

 

Perfil

O Professor Joaquim Colôa, nasceu em Castelo Branco, e é docente de Educação Especial. Para além da habilitação inicial para a docência tem uma especialização, o Mestrado em Educação Especial e uma Pós Graduação em Psicomotricidade. Está há cerca de 20 anos na docência e aproximadamente 11 na Educação Especial. Embora pertença ao Quadro do Agrupamento há 3 anos, somente este ano está a ocupar o seu lugar uma vez que nos anos anteriores esteve em regime de requisição. Gosta de ler, escrever, viajar e assume que gosta muito do que faz.

 

Entrevista concedida por email e recolhida por Pedro Santos Costa - Jornal Nº05 - Setembro 2007

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